Dra. Amanda Salvo

Tenha um clínico geral para chamar de seu

Está aberta a campanha. Política à parte, apesar de estarmos em ano eleitoral, a campanha aqui é outra.  É em defesa da Clínica médica, essa especialidade tão importante e tão desvalorizada no nosso país. Especialidade essa que eu escolhi para exercer e a exerço com muito orgulho e amor.

É uma verdade que muitos tem dificuldade de entender a atuação do clínico geral. Inclusive, já fiz um post sobre isso, justamente para esclarecer a formação do clínico, suas habilidades e áreas de atuação. A propósito, se você já passou por internação hospitalar em UTI ou enfermaria, certamente você esteve sob os cuidados de um clínico geral. E se você teve alta hospitalar, é porque ele deu conta de resolver o seu problema do rim, do fígado ou do coração, mesmo não sendo especialista em nenhuma dessas áreas.

Recentemente retornei com os atendimentos em consultório e me deparei novamente com a mesma situação: o hábito das pessoas de procurar o subespecialista, ao invés do médico clínico geral. Me pergunto até que ponto isso se deve ao desconhecimento da população em relação ao trabalho do clínico geral, ou até que ponto é um hábito cultural e enraizado em nosso país e que as pessoas resistem em mudar.

Como clínica geral e médica de família e comunidade, aprendi na prática diária a importância de se avaliar o paciente como um todo e não fragmentá-lo em órgãos e sistemas. Nesse imenso intervalo de possibilidades de diagnósticos e tratamentos é que mora o desafio de ser clinico geral, mas é aí também que se concentra toda a beleza da nossa atuação.

De modo algum, o objetivo aqui é desvalorizar o subespecialista, seja ele o cardiologista, nefrologista, endocrinologista ou qualquer outra subesespecialidade. É apenas uma tentativa de equilibrar os valores nessa balança desigual das especialidades e defender o tamanho e a importância da Clínica Médica.

Tenha um clínico geral para chamar de seu, em quem você possa confiar e buscar orientações. É ele quem deve te acompanhar ao longo dos anos, conhecer a fundo seu histórico de saúde e solicitar a avaliação do subespecialista quando julgar necessário.

Insuficiência Cardíaca – o famoso “coração inchado”

Popularmente conhecida como “coração inchado” ou “coração grande”, a insuficiência cardíaca é uma condição muito prevalente na população. Isso porque a insuficiência cardíca é o estágio final de todas as doenças que acometem o coração. Assim, portadores de “pressão alta”, quem já infartou ou quem tem alguma alteração nas valvas cardíacas, podem desenvolver insuficiência cardíaca ao longo da vida.

E o que significa exatamente ter insuficiência cardíaca? Significa que o coração desenvolveu alguma dificuldade para exercer suas duas principais funções: 1) relaxar, para receber o volume de sangue proveniente de todo corpo; 2) contrair, para bombear o volume de sangue que recebeu para todo o corpo. Pacientes com Insuficiencia Cardiaca podem apresentar disfunção apenas no relaxamento, apenas na contração ou nas duas etapas da função cardíaca.

O principal sintoma da Insuficiência Cardíaca é o surgimento de cansaço para realizar esforços ou atividades do dia a dia. Além disso, os pacientes podem sentir falta de ar ao permanecerem deitados, muitas vezes necessitando se levantar no meio da noite ou usar vários travesseiros para conseguir dormir. O inchaço nas pernas também pode ser sinal de insuficiência cardíaca, como pode ser causado por outras condições, por exemplo, insuficiência venosa(“varizes”).

Diante desses sinais somados a achados compatíveis durante o exame físico, o diagnóstico pode ser confirmado através do Ecodopplercardiograma. Este exame é capaz de nos mostrar o tamanho do coração, a espessura de suas paredes, presença de infartos prévios, bem como se o relaxamento e/ou a contração cardíaca estão alterados.

Feito o diagnóstico, iniciamos o tratamento, que passa por medidas não farmacológicas, como perder peso e cessar o tabagismo, a uma gama de medicamentos amplamente estudados e com evidencias centificas comprovando sua eficácia em melhorar a função cardíaca e reduzir os riscos de morte pela doença.

A insuficiência cardíaca é uma doença potencialmente grave, e atualmente é responsável por um grande número de internações e óbitos. O diagnóstico precoce, o acompanhamento médico regular e a adesão ao tratamento proposto são medidas essenciais para reduzir a morbimortalidade pela doença, melhorando a qualidade de vida e aumentando a expectativa de vida do paciente portador de Insuficiência Cardiaca.

COVID-19: Mitos e verdades

Infelizmente, há mais de 1 ano vivemos a pandemia do novo Coronavírus, mas apesar disso, muitas pessoas ainda tem dúvidas relacionadas ao vírus, à transmissão, aos cuidados preventivos e de tratamento. Neste texto, vamos esclarecer essas dúvidas, fortalecendo o que a ciência nos ensinou sobre o vírus até o momento e excluindo, definitivamente, as fake news e outras idéias equivocadas sobre a infecção pelo COVID 19, frequentemente disseminadas nos grupos de mensagem e por autoridades políticas.

1. O novo coronavírus foi criado em laboratório?

NÃO. O novo coronavírus foi identificado no final de 2019 em um grupo de pacientes que se apresentaram com pneumonia na cidade de Wuhan, na China. A partir daí, ele se espalhou rapidamente pela China e posteriormente pelo mundo, de modo que em Março de 2020 foi decretada pandemia pela COVID 19 pela Organização Mundial de Saúde(OMS).

2. O que são as cepas variantes do coronavírus?

Assim como outros vírus, o novo coronavírus apresenta alta capacidade de sofrer mutações – que são mudanças em seu material genético. A partir dessas mutações, ele se transforma em novas formas, ou “cepas”, que podem apresentar algumas características distintas entre si. Por exemplo, uma cepa pode ser mais transmissível, enquanto outra pode se manifestar de uma forma mais grave. Atualmente, já foram descritas 4 cepas variantes do coronavírus e todas tem em comum uma maior capacidade de transmissão.

3. Como ocorre a transmissão do novo coronavírus?

A transmissão ocorre através do contato direto com partículas de secreção respiratória quando uma pessoa infectada com coronavírus tosse, espirra ou fala de uma distância menor que 2 metros. Neste caso, o risco de se contaminar é tanto maior quanto maior for a proximidade e a duração do contato, assim como se o contato prolongado ocorrer em ambientes fechados. A infecção também pode ocorrer se as mãos de uma pessoa forem contaminadas por secreções de pessoas infectadas ou por tocar em superfícies contaminadas e, em seguida, tocar os olhos, nariz ou boca.

4. Quais são os sintomas da infecção pela COVID 19?

Pacientes com COVID-19 podem ser assintomáticos ou apresentar um quadro sintomático que pode ser semelhante a um resfriado ou uma pneumonia. Assim, os sintomas mais comuns são dor de garganta, coriza(nariz escorrendo), obstrução nasal, tosse, febre, calafrios, falta de ar, dor de cabeça e dor no corpo. A perda do olfato tem se mostrado um sintoma muito comum nos pacientes com COVID-19 e tende a ocorrer no início da doença. Já a falta de ar é mais observada 4 a 8 dias após o início dos sintomas. Diarreia, náuseas e vômitos podem ocorrer, mas não são os sintomas mais comuns.

5. Tive contato com alguém que testou positivo para COVID 19, o que devo fazer?

Recomenda-se o isolamento por 14 dias a partir da data do último contato com o paciente com COVID 19. Durante este período o paciente deve observar o surgimento de sintomas sugestivos de infecção pelo coronavírus.

6. Como comprovar se tenho COVID-19?

A comprovação da infecção pelo coronavírus é feita através do exame RT-PCR para COVID 19, que é realizada introduzindo-se um swab(“cotonete”) para coleta de secreção na mucosa nasal e/ou de orofaringe.

7. Quando fazer o teste do swab(cotonete)? E o teste sorológico(exame de sangue)?

O swab nasal e/ou de orofaringe é recomendado naqueles pacientes que apresentam sintomas sugestivos de coronavírus e também naqueles que se tornaram sintomáticos após contato com um paciente infectado com coronavírus. Idealmente o teste deve ser realizado do 4º ao 7º dia de sintomas.

Já o teste sorológico tem pouca importância prática, uma vez que não são capazes de detectar infecção aguda. A sorologia tem sua utilidade para evidenciar infecção prévia, mas a sensibilidade do teste(capacidade de ele testar positivo) é muito variável conforme o kit usado.

8. Estou com coronavírus e agora?

Você deve permanecer em isolamento por no mínimo 10 dias a partir da data do início dos sintomas, observando atentamente o surgimento de sinais de piora clínica. Somente após este período você está autorizado a sair do isolamento, desde que esteja sem sintomas e sem febre há pelo menos 24 horas.

9. Quando devo procurar atendimento hospitalar?

Devem procurar atendimento hospitalar os pacientes que apresentem piora da falta de ar e redução saturação de oxigênio no sangue para valores abaixo de 90%, observado através de um oxímetro de pulso. Já a piora da falta de ar pode ser percebida como a sensação de cansaço em repouso ou ao fazer alguma atividade diária.

10. Existe tratamento precoce para coronavírus?

Definitivamente, NÃO. Os estudos científicos que possuímos até o momento não evidenciou qualquer benefício com o uso de Ivermectina, Hidroxicloroquina, suplementos vitamínicos(como Vitamina C e D), Zinco ou Azitromicina. O tal “kit Covid” não funciona. Mesmo o uso de corticóide(prednisona) é recomendado apenas nos pacientes em internação hospitalar que necessitam de suplementação de oxigênio. Como toda doença viral, o tratamento é apenas suportivo e se resume em: repouso, boa hidratação, boa alimentação, paracetamol ou dipirona para dor ou febre. Acrescente a isso uma dose generosa de paciência para aguardar o seu próprio organismo se livrar do vírus e cumprir o isolamento social; e outra dose de vigilância, para atentar-se aos seus sintomas e procurar atendimento médico se apresentar qualquer sinal de piora clínica ou respiratória.  

Em suma, cuide-se, use máscara, respeite o isolamento social, saia de casa somente se extremamente necessário, lave as mãos, use álcool em gel. Além disso, seja crítico com as notícias e mensagens compartilhadas nas redes sociais e não repasse fake news. Informação correta também salva vidas

Programas de Rastreamento

Você sabe qual o objetivo de se rastrear alguma doença? Você conhece os programas de rastreamento bem estabelecidos e recomendados pelo Ministério da Saúde? Você sabe quais doenças devem ser rastreadas e como? Neste texto vamos abordar esses temas e trazer informações que serão de grande valia para sua saúde.

O termo rastreamento traz em si a ideia de se detectar doenças em pessoas saudáveis, ou seja, que ainda não manifestaram sintomas. O objetivo do rastreamento é, portanto, realizar diagnóstico em fases iniciais e com isso reduzir a morbidade e a mortalidade causadas por algumas doenças.

É importante ressaltar que não são todas as doenças que tem indicação de rastreamento, para isso existem alguns critérios. São eles: deve se tratar de doenças com quadro clínico e evolutivo bem conhecido, que sejam possíveis de serem diagnosticadas na fase assintomática, que existam exames disponíveis, acessíveis e confiáveis para o rastreamento e, principalmente, que o benefício da detecção e do tratamento precoce seja superior do que se a condição fosse tratada no momento habitual de diagnóstico.

Os programas de rastreamento mais conhecidos, normalmente mais divulgados pela mídia, são aqueles que objetivam o diagnóstico precoce de neoplasias, como câncer de colo de útero, câncer de mama e câncer colorretal. Ao final deste texto, disponibilizei uma tabela com as recomendações e periodicidade desses rastreamentos para você se programar.

 Ah, você pode estar achando que eu me esqueci de mencionar o câncer de próstata, mas não. O Ministério da Saúde e a Organização Mundial da Saúde não recomenda que se realize o rastreamento do câncer de próstata, ou seja, não é indicado que homens sem sinais ou sintomas façam exames de PSA ou toque retal. Apesar de campanhas como o Novembro Azul reforçarem essencialmente seu efeito benéfico, já é sabido que no rastreio do câncer de próstata o balanço danos versus benefícios claramente pende para os danos.

Para além do rastreamento do câncer, há outras condições que também podem ser rastreadas, com efeitos benéficos para sua saúde. Por exemplo, em pacientes com mais de 40 anos é recomendado rastrear o risco de ter um infarto ou um AVC(“derrame”) nos próximos 10 anos. Isso pode ser realizado através de uma boa entrevista clínica, alguns exames complementares e do uso de algumas calculadoras médicas que analisam todos esses fatores em conjunto e conseguem estimar o risco de um desses eventos. A partir daí, então, o seu médico pode orientar e prescrever medidas com o objetivo de reduzir este risco.

Condições como Hipertensão Arterial e Diabetes Mellitus também podem ser rastreadas. Para a Hipertensão Arterial, é recomendado que pessoas acima de 18 anos mensurem a pressão arterial ao menos a cada 2 anos. Já no caso da Diabetes, de acordo com a Sociedade Americana de Diabetes, o rastreamento é indicado naqueles indivíduos que tem fatores de risco para Diabetes, como por exemplo ter um parente de 1º grau com a doença(pai, mãe ou irmãos).

Um rastreamento indicado, mas que infelizmente ainda é visto como “tabu”, são os exames para rastreio das doenças sexualmente transmissíveis(DST), sendo as mais comuns o HIV,  a Sífilis e as Hepatites B e C. São doenças que se comportam de maneira assintomática ou subclínica durante anos, que podem trazer complicações importantes, além do risco de transmitir para o seu parceiro(a) e assim propagar a infecção. O seu médico deve sempre lhe oferecer a realização dos exames para rastreio de DST’s, sobretudo se você tem uma vida sexual ativa.

Para finalizar quero chamar atenção para o que há de denominador comum nos programas de rastreamento, ou melhor, o que está nas entrelinhas em meio a essas informações: a importância de você ter seu médico clínico de confiança, que vai te acompanhar ao longo da vida, conhecer seus riscos e te orientar quanto aos rastreamentos que são indicados no seu caso, bem como outras intervenções que se fizerem necessárias. 

Sempre é válido ressaltar: em todas as condições médicas, como nas intervenções de prevenção e rastreamento, não reduzamos a consulta médica e a relação médico-paciente a uma lista de exames, e muito menos a uma série de condutas baseadas no senso comum. Procure um profissional que exerça boas práticas médicas – o bom médico é aquele que escuta o seu paciente, informa, orienta e prescreve com base nas melhores evidências cientificas existentes no momento.

Recomendações de Rastreamento de acordo com o Ministério da Saúde e o INCA

Programa de Rastreamento

Quem rastrear?

Quando iniciar?

Quando parar?

Qual periodicidade?

Comentários

Câncer de colo de útero

Mulheres sexualmente ativas

A partir dos 25 anos

Aos 65 anos

Anual

Após 2 exames normais, pode ser repetido a cada 3 anos

Câncer de mama

Mulheres

A partir dos 50 anos*

Aos 75 anos

A cada 2 anos

O início do rastreio e a periodicidade do exame é determinada de acordo com os fatores de risco para o câncer de mama.

Câncer colorretal

Homens e mulheres

A partir dos 50 anos

Aos 75 anos

A cada 10 anos (se colonoscopia) ou A cada 2 anos (se pesquisa de sangue oculto nas fezes)

A periodicidade do exame é menor no caso de história familiar positiva para câncer colorretal em pais ou irmãos.

Adaptado de https://unasuscp.moodle.ufsc.br/pluginfile.php/164858/mod_resource/content/37/Rastreamento/index.html#un2

*A Sociedade Brasileira de Mastologia recomenda o rastreio do câncer de mama a partir dos 40 anos.

A cultura do check-up

Quem nunca agendou uma consulta para fazer um check-up que atire a primeira pedra! No início do ano, quando as pessoas ainda estão sob o efeito das promessas do ano novo, cuidar melhor da saúde quase sempre entra na lista para o ano que virá. Tão logo inicia janeiro, lá estão elas agendando sua consulta médica para realizar o famoso check-up anual.

Agora eu te pergunto: Você já parou para pensar se essa prática de fato tem benefícios para a sua saúde? Arrisco-me a dizer que a enorme maioria das pessoas dirão que sim, pois entendem que estão “prevenindo alguma doença” ou as descobrindo “precocemente”. Porém, não é bem por aí e nem tão simples assim.

A primeira questão a ser levada em consideração é que não há uma lista de exames, como uma receita de bolo, que possa servir para todo e qualquer paciente. Os cuidados de prevenção, que incluem não só exames laboratoriais, mas principalmente exame clínico e orientações médicas, devem ser individualizados e realizados com base na idade, nos hábitos de vida, nas doenças existentes e na história familiar do paciente. Dessa forma, entendemos a quais riscos nossos pacientes estão expostos e como intervir para evitá-los.

O segundo ponto diz respeito aos possíveis maléficios que um rastreio laboratorial ou de exame de imagem pode trazer. Realizar intervenções sem indicação ou evidência de benefício pode levar a uma situação que chamamos de “overdiagnosis”. O “overdiagnosis” é o excesso de diagnóstico, quando se identifica alguma doença ou condição que nunca provocaria sintomas, tampouco causaria repercussões na vida do paciente. E uma vez feito esse diagnóstico, quase sempre ele é acompanhado por um excesso de tratamento, igualmente dispensável e não menos prejudicial ao paciente, conhecido como “overtreatment”.

Outra reflexão válida neste contexto divido com vocês através de um exemplo: você marcou sua consulta, fez seu check-up e eis que descobriu que sua taxa de colesterol está acima dos níveis recomendados. Talvez você ganhe uma receita de uma medicação que reduza o nível de colesterol no seu sangue e volta para casa feliz achando que recebeu um tratamento que vai te trazer saúde e por isso você vai viver mais, certo? Errado. Alguns estudos clínicos randomizados mostraram que tal intervenção pode sim melhorar os níveis de colesterol, mas não há evidência de que essa medida isolada tem impacto na redução da mortalidade.

Por fim, mas não menos importante, é que uma lista de exames dentro dos valores de referência pode dar ao paciente a falsa ilusão de que está tudo certo com sua saúde. E enquanto isso, ele continua fumando um maço de cigarro por dia, consumindo bebida alcoólica em excesso aos finais de semana, fugindo da atividade física regular e comendo produtos industrializados na redes de fast food. Portanto, fica a dica: não se deixe enganar por uma folha impressa do laboratório, ela diz muito menos da sua saúde do que os seus hábitos de vida.

E então, fazer ou não fazer o check-up? Há um consenso na literatura médica que não recomenda check-up anual para adultos jovens sem doenças.  Mesmo com todas as limitações já discutidas, recomenda-se que pacientes com menos de 50 anos, assintomáticos e que não são portadores de doenças crônicas, como por exemplo Hipertensão e Diabetes, devem realizar uma consulta médica a cada 3 anos. Já para os pacientes com mais de 50 anos, que também não possuem doenças crônicas, recomenda-se uma visita médica anualmente.

É importante ressaltar que aqui estamos falando de adultos saudáveis, ou seja, sem doenças e sem sintomas atuais. Para aqueles que possuem alguma doença o intervalo de consulta médica e exames é individualizado e varia conforme a doença e se ela está ou não controlada. Também não cabe nesta discussão os programas de rastreamento de câncer(como mamografia, colonoscopia, entre outros), bem como as recomendações especificas para cada grupo etário. Nestes casos existem fortes evidências que tais intervenções tem benefício e impacto na redução da mortalidade. Falaremos dos programas de rastreamento numa próxima oportunidade.

O que há de mais valioso na realização de um check-up infelizmente costuma ser negligenciado: a consulta médica em si e a relação médico-paciente. Ao procurar um médico para um check-up entenda que não se trata de uma simples consulta da qual você sairá com um pedido de exames. Ao contrário, é um momento propício para o médico conhecer seu histórico de saúde, suas demandas atuais, te examinar, te dar as orientações cabíveis no momento, e que você pode ou não sair da consulta com um pedido de exames em mãos. Procure um profissional de confiança que tenha esse cuidado com você. Uma boa relação médico-paciente é sempre o ponto de partida para uma assistência à saúde de qualidade. 

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Escrito por Dra. Amanda Salvo – CRMMG 65064

O que faz um Clínico Geral?

Clínico geral – quem são, o que fazem e onde habitam? Parafraseando o filme “Animais Fantásticos e onde habitam”, do diretor Davis Yates, lanço a pergunta: você saberia definir o que faz um clínico geral?

Antes de aprofundar nossa conversa vale um esclarecimento que gera confusão em muita gente: todo médico é clínico geral? A resposta é não. Após a graduação de Medicina, que tem duração de 6 anos, recebemos o diploma de médico generalista. Este termo deve ser entendido como aquele médico que recebeu uma formação básica para as 4 grandes áreas da Medicina: clínica médica, pediatria, cirurgia geral e ginecologia/obstetrícia. Isso porque ao longo da faculdade fazemos diversas matérias teóricas e práticas que abordavam essas grandes áreas. De um modo geral, como médicos generalistas estamos aptos a trabalhar na atenção primária (postos de saúde) ou dando plantões em unidade de pronto atendimento, as famosas UPAS.

Então, qual é a diferença entre o médico generalista e o clínico geral? A diferença é que após terminada a graduação, o clínico geral se especializou por mais 2 anos no atendimento clínico de adultos através da residência médica, que é  uma espécie de pós graduação. Na residência de Clínica Médica o médico é submetido a uma extensa carga teórica e principalmente prática nos âmbitos hospitalar e ambulatorial para se especializar nas principais condições e doenças dos adultos. Isso permite que o clínico geral atue nos serviços de urgência, nas internações hospitalares, nas unidades de terapia intensiva e no atendimento em consultório.

Esclarecida a diferença entre o médico generalista e o clínico geral e como se dá a formação do clínico geral, agora você pode me perguntar: Quais doenças o clínico geral trata? Quando eu devo procurar um clínico geral e não partir direto para um especialista?

Pois bem, como já mencionado anteriormente, o clínico geral, ou clínico médico, recebe durante sua formação conhecimento para investigar e manejar as principais condições que afetam a saúde do adulto, reservando para o especialista aqueles casos de maior complexidade ou raropatias. É um equívoco bastante comum por parte dos pacientes procurar um cardiologista para tratar a Hipertensão Arterial, um endocrinologista para tratar a Diabetes, um neurologista para investigar uma dor de cabeça, e assim por diante. Citei apenas 3 condições, poderia citar várias outras,  mas todas elas são doenças e sintomas muito comuns no dia a dia que poderiam ser tranquilamente conduzidas por um bom clínico geral. Imagine um paciente que tenha todas essas doenças e talvez outras mais, o que lhe parece mais vantajoso: ter um médico para cada uma delas ou o único médico que possa avaliar todas em conjunto?

 Agora, para ficar mais claro a dança das especialidades médicas e o papel de cada uma delas, vamos usar um exemplo: Suponha que um paciente idoso perdeu involuntariamente 20Kg em 6 meses e procurou um clínico geral para investigar o quadro. O clínico suspeitou que pudesse ser um câncer e diante dessa suspeita iniciou toda a investigação diagnóstica para descobrir o local do tumor e até mesmo analisar se a doença encontra-se em fase inicial ou avançada. Porém, uma vez feito o diagnóstico, é mandatório que o paciente seja encaminhado para especialistas, neste caso, um oncologista e talvez também um cirurgião(se for um tumor ressecável). O paciente então seria acompanhado pelas 3 especialidades. O clínico geral seria responsável por acompanhar as outras doenças do paciente e manejar as complicações do tratamento do câncer; ao oncologista que, por sua vez, detém conhecimentos específicos do comportamento do câncer e das melhores terapias, caberia a escolha do tratamento, como qual modalidade de radio ou quimioterapia; e o cirurgião, por fim, seria responsável pela biópsia diagnóstica, cirurgia(se indicada) e complicações pós-operatórias.  

Diferentemente do que ocorre no Brasil, em muitos países da Europa já existe a cultura de valorizar o médico de formação generalista, por isso é comum os pacientes procurarem o atendimento de um clínico geral ou generalista,
ao invés de partir direto para a consulta com um especialista. Esta também é a ideia por trás da estrutura da Atenção Primaria à Saúde no Brasil, que ocorre no SUS, e que alguns convênios já começaram a adotar. Isto é, antes de consultar-se com o especialista, necessariamente o paciente deve ser avaliado pelo médico clínico geral ou pelo médico generalista. E acredite, em mais de 80% das vezes a demanda do paciente consegue ser resolvida sem necessidade de uma avaliação especializada.

É importante ressaltar também que muitas vezes o paciente não consegue discernir a qual órgão ou sistema se refere o sintoma que ele está sentindo. Quantas vezes a “dor de rim” é na verdade uma lombalgia secundária a um vício de postura? Quantas vezes a dor no peito que te faz procurar um cardiologista e fazer todos os testes cardiológicos possíveis, se trata, na verdade, de uma dor de origem psicogênica secundária a um quadro de ansiedade?

Não, não é obrigação do paciente saber disso. Afinal, nós médicos é quem recebemos formação para identificar e tratar sua dor, seja ela física ou emocional. Mas lembre-se que o clínico geral é o profissional que pode investigar, identificar e manejar sua queixa de forma ampla e competente, além de atuar como uma espécie de gerente/gestor do cuidado da sua saúde ao longo da vida, solicitando a avaliação e opinião do médico especialista apenas quando julgar necessário. 

Feitos os devidos esclarecimentos, fica então a sugestão de um novo olhar para o cuidado com a sua saúde. Se precisar de avaliação médica, seja para investigar um novo sintoma ou para acompanhar uma doença crônica, considere procurar um clínico geral.

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Escrito por Dra. Amanda Salvo – CRMMG 65064 | RQE 50021