Dra. Amanda Salvo

O que faz um Clínico Geral?

Clínico geral – quem são, o que fazem e onde habitam? Parafraseando o filme “Animais Fantásticos e onde habitam”, do diretor Davis Yates, lanço a pergunta: você saberia definir o que faz um clínico geral?

Antes de aprofundar nossa conversa vale um esclarecimento que gera confusão em muita gente: todo médico é clínico geral? A resposta é não. Após a graduação de Medicina, que tem duração de 6 anos, recebemos o diploma de médico generalista. Este termo deve ser entendido como aquele médico que recebeu uma formação básica para as 4 grandes áreas da Medicina: clínica médica, pediatria, cirurgia geral e ginecologia/obstetrícia. Isso porque ao longo da faculdade fazemos diversas matérias teóricas e práticas que abordavam essas grandes áreas. De um modo geral, como médicos generalistas estamos aptos a trabalhar na atenção primária (postos de saúde) ou dando plantões em unidade de pronto atendimento, as famosas UPAS.

Então, qual é a diferença entre o médico generalista e o clínico geral? A diferença é que após terminada a graduação, o clínico geral se especializou por mais 2 anos no atendimento clínico de adultos através da residência médica, que é  uma espécie de pós graduação. Na residência de Clínica Médica o médico é submetido a uma extensa carga teórica e principalmente prática nos âmbitos hospitalar e ambulatorial para se especializar nas principais condições e doenças dos adultos. Isso permite que o clínico geral atue nos serviços de urgência, nas internações hospitalares, nas unidades de terapia intensiva e no atendimento em consultório.

Esclarecida a diferença entre o médico generalista e o clínico geral e como se dá a formação do clínico geral, agora você pode me perguntar: Quais doenças o clínico geral trata? Quando eu devo procurar um clínico geral e não partir direto para um especialista?

Pois bem, como já mencionado anteriormente, o clínico geral, ou clínico médico, recebe durante sua formação conhecimento para investigar e manejar as principais condições que afetam a saúde do adulto, reservando para o especialista aqueles casos de maior complexidade ou raropatias. É um equívoco bastante comum por parte dos pacientes procurar um cardiologista para tratar a Hipertensão Arterial, um endocrinologista para tratar a Diabetes, um neurologista para investigar uma dor de cabeça, e assim por diante. Citei apenas 3 condições, poderia citar várias outras,  mas todas elas são doenças e sintomas muito comuns no dia a dia que poderiam ser tranquilamente conduzidas por um bom clínico geral. Imagine um paciente que tenha todas essas doenças e talvez outras mais, o que lhe parece mais vantajoso: ter um médico para cada uma delas ou o único médico que possa avaliar todas em conjunto?

 Agora, para ficar mais claro a dança das especialidades médicas e o papel de cada uma delas, vamos usar um exemplo: Suponha que um paciente idoso perdeu involuntariamente 20Kg em 6 meses e procurou um clínico geral para investigar o quadro. O clínico suspeitou que pudesse ser um câncer e diante dessa suspeita iniciou toda a investigação diagnóstica para descobrir o local do tumor e até mesmo analisar se a doença encontra-se em fase inicial ou avançada. Porém, uma vez feito o diagnóstico, é mandatório que o paciente seja encaminhado para especialistas, neste caso, um oncologista e talvez também um cirurgião(se for um tumor ressecável). O paciente então seria acompanhado pelas 3 especialidades. O clínico geral seria responsável por acompanhar as outras doenças do paciente e manejar as complicações do tratamento do câncer; ao oncologista que, por sua vez, detém conhecimentos específicos do comportamento do câncer e das melhores terapias, caberia a escolha do tratamento, como qual modalidade de radio ou quimioterapia; e o cirurgião, por fim, seria responsável pela biópsia diagnóstica, cirurgia(se indicada) e complicações pós-operatórias.  

Diferentemente do que ocorre no Brasil, em muitos países da Europa já existe a cultura de valorizar o médico de formação generalista, por isso é comum os pacientes procurarem o atendimento de um clínico geral ou generalista,
ao invés de partir direto para a consulta com um especialista. Esta também é a ideia por trás da estrutura da Atenção Primaria à Saúde no Brasil, que ocorre no SUS, e que alguns convênios já começaram a adotar. Isto é, antes de consultar-se com o especialista, necessariamente o paciente deve ser avaliado pelo médico clínico geral ou pelo médico generalista. E acredite, em mais de 80% das vezes a demanda do paciente consegue ser resolvida sem necessidade de uma avaliação especializada.

É importante ressaltar também que muitas vezes o paciente não consegue discernir a qual órgão ou sistema se refere o sintoma que ele está sentindo. Quantas vezes a “dor de rim” é na verdade uma lombalgia secundária a um vício de postura? Quantas vezes a dor no peito que te faz procurar um cardiologista e fazer todos os testes cardiológicos possíveis, se trata, na verdade, de uma dor de origem psicogênica secundária a um quadro de ansiedade?

Não, não é obrigação do paciente saber disso. Afinal, nós médicos é quem recebemos formação para identificar e tratar sua dor, seja ela física ou emocional. Mas lembre-se que o clínico geral é o profissional que pode investigar, identificar e manejar sua queixa de forma ampla e competente, além de atuar como uma espécie de gerente/gestor do cuidado da sua saúde ao longo da vida, solicitando a avaliação e opinião do médico especialista apenas quando julgar necessário. 

Feitos os devidos esclarecimentos, fica então a sugestão de um novo olhar para o cuidado com a sua saúde. Se precisar de avaliação médica, seja para investigar um novo sintoma ou para acompanhar uma doença crônica, considere procurar um clínico geral.

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Escrito por Dra. Amanda Salvo – CRMMG 65064 | RQE 50021